É fato que as tecnologias estão cada vez mais inseridas em nosso cotidiano. A internet tem revolucionado o acesso à informação, diminuindo distâncias e mudado as formas de relacionamento entre os indivíduos. Mas não para por aí: esses avanços tecnológicos estão chegando às indústrias tradicionais, prometendo revolucionar novamente o cenário mundial.
Provavelmente, você já deve ter ouvido falar: “Internet das coisas (IoT)”, que, segundo a Wikipedia, “é uma rede de objetos físicos, veículos, prédios e outros que possuem tecnologia embarcada, sensores e conexão com rede capaz de coletar e transmitir dados”. Na prática, é uma extensão da Internet como conhecemos aplicada aos objetos que utilizamos em nosso dia-a-dia, permitindo a estes que se conectem à rede mundial de computadores.
A internet das coisas tem possibilitado às indústrias tradicionais uma produção mais eficiente e com foco no consumidor. Essa aplicação é chamada Indústria 4.0.
Para falar mais sobre o assunto, a UBQ conversou com Marco Nitti, fundador e consultor sênior da KAILAB Consulting. Marco também é especialista em análise de custo do produto, Value Analysis, Value Engineering, World Class Manufacturing e Lean Manufacturing. Recentemente, ele retornou de uma visita de benchmarking na Itália, focada na implementação dos conceitos da Industria 4.0 em Indústrias de pequeno e médio porte.
O que é indústria 4.0 e por que muitos especialistas chamam de quarta revolução industrial?
Marco Nitti – Com base na definição dada pela consultoria McKinsey, a Industria 4.0 é a aplicação da Internet das Coisas nas indústrias tradicionais. Isso implica em: multiplicação exponencial da quantidade de sensores nos equipamentos, difusão maciça de redes wireless em ambientes industriais e análise contínua da enorme quantidade de dados gerada pela rede de máquinas. Mais do que uma “revolução”, trata-se de uma “evolução” da Industria que, aproveitando de tecnologias já disponíveis ou em fase de desenvolvimento, poderá não apenas produzir de forma mais eficiente eliminando os desperdícios, mas também se integrar em novos modelos de negócios que visam satisfazer as necessidades de uma nova geração de consumidores.
O que esse novo paradigma traz, na prática, para as empresas?
Marco Nitti – A implementação do paradigma da Industria 4.0 terá impactos enormes para as empresas de manufatura.
- Do ponto de vista tecnológico: as empresas precisarão conhecer, experimentar e implementar novas tecnologias identificando aquelas que mais podem agregar valor ao próprio negocio; Cada vez mais frequentemente encontraremos nas empresas exemplos de robot colaborativos (cobot) que trabalham lado a lado dos operadores, sistemas de análise avançados das informações, abastecidos com sensores embarcados nos equipamentos, que suportam as decisões de gerentes e analistas, tecnologias que mudarão de forma disruptiva o modelo de negocio permitindo uma redução drástica dos lead time (se pense á tecnologia da impressão 3D);
- Do ponto de vista organizacional: Áreas como TI, Marketing e Compras aumentarão progressivamente o próprio peso dentro do organograma das organizações e poderão influenciar cada vez mais a gestão e a tomada de decisões das áreas diretamente ligadas à produção. As empresas precisarão lidar com a gestão de dinâmicas não apenas de tipo homem-homem mas também de tipo homem-máquina, e precisarão re-definir os próprios modelos de criação e gestão das competências. As empresas precisarão formar um quadro gerencial com um novo mindset mais aberto para experimentação e o uso das novas tecnologias;
- Do ponto de vista econômico: os principais driver de custo das empresas de manufatura poderão ser completamente revolucionados (menor impacto dos custos de mão de obra e maior relevância dos custos de energia, manutenção, serviços).
Qual é o impacto para o consumidor?
Marco Nitti – O consumidor poderá usufruir de produtos cada vez mais personalizados em um tempo menor, mas a verdadeira revolução será a proliferação de serviços atrelados a produtos dos quais o consumidor não precisará ter a propriedade direta. Os consumidores poderão pagar apenas para o uso de determinados produtos pelo tempo que eles precisam, reduzindo custos e tirando do consumidor atividades que para ele não agregam valor (como a manutenção dos produtos).
Como o Brasil está em relação a esse paradigma?
Marco Nitti – Há anos as empresas brasileiras são afetadas por uma carência de produtividade e uma reduzida penetração de algumas tecnologias em comparação com outras grandes economias mundiais (com base dados de Outubro de 2015, comparando o numero de robô a cada 10.000 operadores a Coreia do Sul tem 437, o Japão 323, a Alemanha 282, EUA 152, Brasil 9). Muitas empresas ainda precisam completar a implementação de metodologias que, também na Europa, EUA e Japão, são consideradas um requisito básico para trilhar com segurança o caminho da Industria 4.0: estamos falando dos conceitos de 5S, da Lean Manufacturing e do WCM (World Class Manufacturing). Contudo, existe uma base de conhecimento sólida que, se aplicada com rigor, pode propiciar uma rápida recuperação das lacunas em comparação com outras importantes economias globais.
Quais são alguns dos desafios que o Brasil ainda precisará enfrentar para se adaptar a essa nova realidade?
Marco Nitti – Os altos custos de Energia e importação de novas tecnologias, as carências de infraestruturas que dificultam a introdução de algumas tecnologias (por exemplo: pense nas dificuldades na introdução da tecnologia dos carros autônomos nas estradas e rodovias brasileiras) e a ausência de uma politica que incentive às empresas na introdução dos paradigmas da Indústria 4.0 são alguns dos desafios que o Brasil precisará enfrentar para se adaptar á nova realidade imposta pela introdução dos conceitos dessa nova realidade.
Se você se interessou por esse assunto e deseja saber mais sobre essa realidade que está por vir, participe do Debate UBQ – Estratégias e Desafios para Implementação da Indústria 4.0 no Brasil, que acontecerá no próximo dia 06 de Abril de 2018, no Auditório do Centro de Liderança Empresarial da FIEMG, em Belo Horizonte/MG. Marco Nitti será o coordenador do debate. Saiba mais clicando aqui.
(foto por Freepik.com)
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