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Colaboração em Tempos de Guerra

Creio que todos já tenham assistido a um filme de guerra e vão se lembrar das barricadas, locais onde os soldados se protegem dos ataques dos inimigos, enquanto continuam lutando. Os mais vulneráveis e feridos são protegidos nas barracas e, aqueles em melhor condição, continuam na sua função.

Aqueles que lutam têm que ficar muito atentos, pois o perigo pode vir de todos os lados. Os que ficam dentro das barracas têm que organizar suas necessidades e executar as atividades, utilizando suas habilidades e aprendendo outras, além de cuidar da própria saúde física e mental para não dar trabalho àqueles que estão lutando.

Embora contra as guerras, utilizo esta analogia, pois estamos vivendo algo semelhante, porém, o inimigo é invisível e sorrateiro. Ele pode nos atacar exatamente pelos gestos que mais traduzem nossas manifestações de afeto, principalmente no Brasil. Ele não admite negociação e nem acordo de paz. Sob a perspectiva colaborativa, sim, já que a união é a condição que nos possibilita ganhar este combate.

Seria possível nos precaver e, ao mesmo tempo, agir para reorganizar o sistema simultaneamente à ação do inimigo? Sim, e isto já está acontecendo. Em todas as famílias há aqueles que estão atrás das barricadas lutando e outros com mais de 60 anos, pessoas com sintomas ou outras situações que exigem a permanência nas barracas.

Vivemos em um sistema e todo sistema é dinâmico e impulsionado pela sobrevivência; reduz o ritmo, concentra no essencial, mas continua funcionando.

Quem está atrás das barricadas lutando? Os profissionais da saúde, equipes do governo, polícia, corpo de bombeiros, religiosos, limpeza urbana e dos ambientes, equipes de supermercados, farmácias, laboratórios, restaurantes, equipes de e-commerce e repórteres. Também os funcionários dos laboratórios, das fábricas, do agronegócio e logística de alimentos, que precisam entregar os produtos para alimentação, suprir os hospitais, etc. Utilizam como barricadas as máscaras, luvas, aventais, entre outras, mas necessitam da sabedoria e generosidade das lideranças bem como da colaboração da sociedade para ganharem o combate.

Há muitos anos trabalho no desenvolvimento de equipes colaborativas, ensinando a solução de problemas com método e criatividade, mas nunca sequer imaginei algo assim. Vejo que o conhecimento existente é limitado. Fomos treinados para ver e agir em tempos diferentes e não simultaneamente. Este problema nos mostra que temos que ir além. É preciso usar outras lentes para ver o sistema como um todo e treinar o olhar para antever os problemas localizados que poderão se disseminar. Ou seja, nos desenvolvermos para corrigir, para antever e prevenir, como demonstro a seguir:

Estamos perplexos diante do desconhecido e do invisível. Não temos todos os conhecimentos necessários para nos fundamentar. Temos que aproveitar para aprender, entender melhor o sistema em nível global, conseguir localizar nele o nosso sistema, conhecer os elementos que o compõem, as funções de cada um e as responsabilidades sobre elas. Assim teremos um mapa sistêmico para ancorar os novos conhecimentos que precisamos para solucionar o problema da sobrevivência humana e organizacional.

É somente sob a visão sistêmica que líderes e especialistas poderão descobrir a solução para a cura (corretiva) e a vacina (preventiva) para o vírus e, quem sabe para o maniqueísmo que distancia as pessoas com pensamentos limitantes como: é economia ou a saúde? É o governo atual ou o anterior? É a rede de TV X ou a Y? É o jornal A ou B? É o executivo ou legislativo? Votou no fulano ou no ciclano? Se focarmos na função “sobrevivência humana”, veremos que estes pensamentos reducionistas não fazem sentido e ainda impedem a união e a colaboração. Este é um momento de somarmos as nossas habilidades e atuarmos sinergicamente. Somos fortemente interdependentes.

Pergunto: se o Covid-19 é a maior disfunção de um sistema que já vivemos, a solução virá isoladamente do governo federal, estadual, municipal, da área da saúde, dos pesquisadores, economistas, do empresariado, dos religiosos, da sociedade? Claro que não! É um fenômeno complexo que requer um debate amplo aproveitando ao máximo os conhecimentos e experiências, sob a liderança de quem possa fazer valer o propósito e frear interesses específicos. Os novos conhecimentos e estratégias surgirão deste esforço colaborativo em que pessoas de várias áreas e perspectivas diferentes, aprenderão umas com as outras e produzirão descobertas sinérgicas.

O momento requer que as discussões e decisões sejam hospedadas no pensamento sistêmico e movidas pelo motor da colaboração. Esta é a senha para a sobrevivência. Estamos globalmente interconectados, o que pode ser perigoso ou construtivo. Temos o poder de contribuir para uma função ou desencadear uma disfunção do sistema onde estamos e gerar consequências no sistema maior.

No info a seguir, descrevo alguns passos que poderão ser úteis para exercitar a consciência sobre o sistema, preparando as pessoas para observá-lo e identificar suas funções e disfunções. É um mapa para organizar e conectar pessoas e funções:

Um mapa deste tipo facilita a preparação e o engajamento das pessoas para que possam contribuir para a reorganização do seu sistema em menor tempo e com menor custo. Após esta crise, será feito um balanço e haverá muitas perguntas sobre o que é realmente essencial e o que poderá ser simplificado. Creio que a maior parte delas deverá ser respondida com os novos paradigmas que estão surgindo em todos os campos. Não voltaremos ao que éramos antes. A colaboração será sem dúvida o nosso maior aprendizado. Ela tem se revelado espontaneamente na população por meio de ideias criativas de elevado valor, seja pela cantoria nas janelas ou nas funções mais delicadas de salvar vidas, economia, relações, etc.

Tudo aconteceu numa velocidade tão grande que ainda estamos sob o choque. Mas, quando este pesadelo passar, despertaremos em um mundo muito diferente e confirmaremos mais uma vez a força da união e da colaboração para a sobrevivência humana e das organizações.

NEUZA CHAVES

Mestre em Administração Profissional (FPL), Sênior Advisor associada à Falconi e Master Professional Executive Coach . Autora de livros na área da Educação e Desenvolvimento de lideres e Equipes. Consultora em Gestão Organizacional com ênfase em desenvolvimento humano e palestrante nos temas referentes a Formação e Desenvolvimento de Equipes, Liderança, Comunicação, Gestão por Competências, Avaliação de Desempenho, Governança e Gestão da Mudança. Foi presidente da UBQ e atualmente é Conselheira consultiva da instituição.

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