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Ensaio sobre a Gestão da Qualidade

(foto: freepik.com)

Há pouco estava filosofando com um amigo (Renato Souza – Mineração Cmoc) sobre os modismos da qualidade e suas nuances, sobre a sopa de letrinhas dos métodos e o que realmente importa na gestão e sobre profissionais de gestão que por vezes confundem a operação com conceitos que deveriam ser simples na gestão.

Com base nesta “charla”, resolvemos iniciar um ensaio crítico sobre gestão da qualidade ao invés de publicar um artigo científico, porque o presente… (ops, meu viés para o técnico se manifestou) Retificando: porque este texto tem a pretensão, nada mais que isso, de nos fazer refletir sobre automatismo versus humanismo na gestão.

Reflexão… creio ser esse um objetivo nosso da União Brasileira para Qualidade.

Antes de iniciar acho necessárias algumas definições:

Ensaio: Um ensaio acadêmico é um texto para discutir determinado tema, de relevância teórica e científica, com base teórica em livros, revistas, artigos publicados, entre outros. Uma modalidade de texto bastante usada na academia, especialmente nas áreas de Ciências Humanas, é o ensaio.

Artigo científico é o trabalho acadêmico que apresenta resultados sucintos de uma pesquisa realizada de acordo com o método científico aceito por uma comunidade de pesquisadores.

Automatismo: atividade, movimento ou reação independente da vontade

Humanismo, no sentido amplo, significa valorizar o ser humano e a condição humana acima de tudo

Bom, para satisfazer nossa necessidade HUMANA devo falar um pouco da minha experiência na área da qualidade: sou engenheira mecânica com 23 anos de experiência na área industrial. No início da carreira, trabalhei na operação, sofria auditorias (sim, eu já sofri com auditorias) e ficava me perguntando: como tornar tudo isso prático?

Após esta estada na operação, por uma ironia do destino caí na área de gestão, a qual eu tanto colocava em xeque. Confesso que durante 02 anos exerci meu cargo com automatismo mas com um desejo enorme que tudo que dizia fosse verdade.

Afortunadamente, um dia me deparei com meu mestre e mentor profissional, um magnífico engenheiro (e hoje executivo de uma grande mineração) que descobriu precocemente como humanizar a gestão. Foi um encontro fortuito, eu com uma bagagem teórica (na época) e ele com objetivos claros e um pragmatismo insuperável.

Missão dada: estabilizar um negócio de uma empresa globalmente conhecida, completamente sem rumo na ocasião.

Missão cumprida: operação estabilizada em 8 meses, nem mesmo eu acreditava como tínhamos conseguido em tão pouco tempo.

Esta missão rendeu reconhecimento e na sequencia vieram a estabilização de outros 4 grandes negócios em renomadas empresas do ramo de mineração. Na terceira, a missão deveria ser cumprida em seis meses e em três já tínhamos resultados avaliados e comprovados pelo CEO global.

Mas qual o segredo? Havíamos descoberto a pólvora da gestão? Teria sido sorte ou resultado de passos minuciosamente estudados?

Não creio em sorte. Plagiando alguém, creio em oportunidade e preparação. Neste caso, as oportunidades eram, e ainda são, centenas de processos a estabilizar. E a preparação foram e são as noites de estudo e mais do que isso os dias e noites de observação e análise de comportamentos das pessoas frente às iniciativas de gestão.

Enfim chegamos lá, ou melhor, voltamos ao início do texto:

  • Modismos da qualidade e suas nuances: Há muito não temos nada inovador em gestão. Uma boa gestão se resume em seguir o conceito de história: analisar o passado, entender o presente e melhorar o futuro;
  • Essa constatação nos leva ao tópico dois sobre a sopa de letrinhas: Se você realmente sabe conduzir a investigação seguindo o conceito de história, não interessa se a nomenclatura é PDCA, MASP, DMAIC, 3G ou outro título. O principal você tem: lógica e raciocínio estruturado;

Tópico 3 e polêmico: sobre profissionais de gestão que por vezes confundem a operação com conceitos que deveriam ser simples na gestão. Na minha experiência, a grande maioria era acadêmicos que demonstração um certo orgulho em mostrar o conhecimento citando livros ou páginas de livro. No entanto, se não há uma visão mais pragmática da gestão da qualidade, esse comportamento pode nos levar automatismo.

Nada contra estudos acadêmicos, mesmo porque são meios para a prática e a prática pode nos levar a eles. O sucesso vem da integração da preparação teórica mais prática.

A deficiência verificada em várias implementações de gestão muitas vezes teve como base este automatismo. Implementar tornou-se simplesmente um movimento independente da vontade do outro e para o sucesso de qualquer iniciativa faz-se necessário garantir um voto de confiança, usar de empatia que demanda entendimento da cultura local, hábitos e história (mais uma vez: analisar o passado, entender o presente, melhorar o futuro).

Para os acadêmicos ou para nós de exatas pode soar meio humanista demais, mas o propósito é exatamente esse. Quando me perguntam: qual seu segredo para estabilizar processo? Qual o segredo do sucesso nestas empreitadas ao longo destes mais de 15 anos somente na área de gestão?

Resposta que será o gancho para nossa próxima reflexão: Mais humanismo, menos automatismo. Mais ensaios, menos artigos.

 

SOBRE A AUTORA


patricia-fonsecaPATRÍCIA FONSECA é Engenheira Mecânica e Master Black Belt. Atua como Consultoria Corporativa de BI da Anglo American. Foi responsável pela implementação de metodologias de gestão (Gerenciamento pelas Diretrizes, Gerenciamento da Rotina e LSS) nos negócios Níquel, Nióbio e Fosfatos da Anglo American e Votorantim. Atuou na implantação de Programas Seis Sigma em diversas organizações, entre elas: Votorantim Cimentos, Banco Santander, Samarco Mineração, Nestlé, Aché Farmacêutica, etc. Há 08 anos é jurada no Evento Anual de Melhoria Contínua da VALE.

 

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