(Créditos: imagens da internet)
Na primeira parte deste artigo trabalhamos os acidentes de grandes proporções como sendo fatos cujas causas não são tão visíveis ao espectro da segurança do trabalho. Essa característica levou a grandes empresas, com sistemas de gestão de segurança de elevada maturidade e resultados bem consolidados, a terem acidentes com múltiplas fatalidades, vide Macondo da BP, muito bem retratado no filme “Horizonte profundo”. Em uma das cenas da produção, o gestor recebe um reconhecimento de excelência em Segurança ocupacional e, na cena seguinte, a plataforma explode.
Por que os métodos e a abrangência da Segurança do trabalho (Ocupacional) não são capazes de prevenir este tipo de evento catastrófico?
A Explicação começa na figura abaixo, na qual tratamos da frequência dos eventos e sua complexidade.
O gráfico a seguir demonstra de forma clara as características que separam as abordagens. Vamos explorar um pouco estas características.
As ocorrências de Segurança do trabalho, ou seja, os acidentes do trabalho, têm frequência elevada em relação dos de processo. Podemos medir esta frequência em períodos relativamente curtos e esse fato se dá em função da característica pessoal da segurança do trabalho. Os eventos principais derivam da interação do empregado com o processo e, se observamos o trabalho, esta interação é muito significativa.
Vejam que estamos falando de acidentes por milhão de homens hora de exposição (trabalho efetivo) e que a referência mundial é em torno de 1 acidente por milhão de homens hora.
Este nível é mensurável exatamente por ser bastante frequente a ocorrência de acidentes do trabalho. Entretanto, algumas empresas que têm atingindo o Zero Acidente vêm buscando novos indicadores desempenho ou aumentado o período de referência para que seja possível manter o indicador.
Já para os eventos de processo, não é possível definir uma taxa de frequência, pois sua ocorrência é bastante rara. No entanto, quando ocorrem, são verdadeiras catástrofes. Além dos exemplos de Seveso e Bhopal, podemos citar, Chernobyl, Piper Alfa (mar do Norte) , Macondo (golfo do México), Plataforma P36, no Brasil.
O que faz estes eventos serem raros é a complexidade dos sistemas e as barreiras inerentes ao processo desenvolvidas no projeto. Em muitos dos casos citados acima, o evento foi fruto de mudanças, manutenções e degradações destas barreiras ao longo do tempo. Isso significa que um acidente de processo pode ficar latente por anos até sua materialização.
Abordagem diferente
Segurança do Trabalho (Ocupacional)
Atuação:
O ambiente de trabalho e as relações que ocorre neste âmbito;
- avalia os riscos associados ao ambiente (Físico, químico, biológico, mecânico, de acidentes);
- analisa as atividades inerentes ao trabalho proposto.
Foco de estudo:
- Eventos de alta frequência, mas de consequências menores, decorrente de interações do homem com equipamentos;
- Riscos gerados pela própria atividade em curso.
- As barreiras são focadas nas atividades e nas interações do homem com o processo.
- Ferramentas, métodos e regras: foco nas pessoas e atividades.
Ferramentas, métodos e regras:
- São focadas nas atividades, como por exemplo: APR, análise de riscos de tarefas, levantamentos ergonômicos e ambientais.
(Créditos da Imagem: https://images.app.goo.gl/K6W7MBDoAcHjx8Su7)
Segurança de Processo
Atuação:
No processo, por sua origem na indústria de óleo e gás.
- Tem como evento central a perda de contenção (Vazamentos) de substâncias perigosas (Produtos químicos, combustíveis, inflamáveis, e outras substancias que por suas características (temperatura, reatividade, etc…).
Foco de estudo:
- processos que usam substâncias perigosas, que eventos são de baixíssima frequência, mas de grande consequência, decorrentes de perda de contenção em função do controle do processo e da falha das barreiras estabelecidas para este controle.
- As barreiras são focadas no controle do processo e na mitigação das consequências das perdas destes eventos (Grande consequências)
Ferramentas, métodos e regras:
- São focadas nos processos, como por exemplo : HAZOP, FMEA, Estudos de confiabilidade, Árvores de falhas, BowTie.
(Créditos da Imagem: https://images.app.goo.gl/DZm53sx1Qr54EhN86)
Conclusão
Segurança do processo e do trabalho são complementares; terão entradas e saídas comuns e, em alguns aspectos, bem diferentes; o alinhamento das ações é fundamental e o objetivo final é a prevenção de acidentes e a preservação da vida.
Para mais informações sobre segurança de processos, consulte CCPS – Chemical Center for Process Safety https://www.aiche.org/ccps
Eduardo Barbosa de Almeida é Gerente Geral Corporativo de Gestão de Segurança de Processos na USIMINAS. Possui grande experiência em empresas de grande porte na área de Saúde e Segurança do Trabalho (ArcelorMittal, Usiminas), com participação ativa na CNPBz – Comissão Nacional Permanente do Benzeno, CEBz_SP Comissão Estadual Benzeno – SP e apresentando nos últimos anos resultados significativos de redução de acidentes e doenças do trabalho, bem como na redução de passivos trabalhistas, melhoria de ambiente de trabalho e elevação do nível de maturidade organizacional das empresas por onde atuou. Introdutor no conceito de segurança de processos na industria siderúrgica brasileira e na Usiminas, liderando a equipe de Process Safety e de criação da Gestão desta dimensão da segurança na empresa.
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