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Segurança do Trabalho x Processo (Concorrentes ou complementares?) – Parte I

(Créditos da imagem: Divulgação do Filme “Deepwater Horizon” – Participant Media/Di Bonaventura Pictures)

Recentemente, mudei de área na Usiminas e assumi a Gestão de Segurança de Processos. Após essa mudança, muitas pessoas têm me questionado sobre o novo cargo e qual a diferença entre Segurança do trabalho e de processos.

Para elucidar essa dúvida e possibilitar uma disseminação maior desta nova fronteira da segurança, resolvi escrever este artigo, que compartilho com minhas conexões.

Para que possamos entender bem as diferenças é importante destacar que o termo Segurança tem uma amplitude enorme e que, no inglês, existem dois termos distintos para o que chamamos de “Segurança”. Em inglês, o termo ‘Security’ está associado a segurança patrimonial ou segurança pública, enquanto ‘Safety’ esta associado a segurança ocupacional (do trabalho) e de processos, neste caso incorporando a qualificação e ficando como Process Safety.

Nesse artigo iremos tratar do universo Segurança enquanto ‘Safety’, suas intercessões e suas diferenças, bem como o quanto o “Process Safety” está evoluindo e sendo alvo de interesse das empresas.

Segurança do trabalho (Ocupacional) 

O termo segurança do trabalho ou ocupacional nasceu entre o final do século XIX e início do século XX com os desdobramentos da revolução industrial. Preocupada com as consequências da interação dos operários com as máquinas, a sociedade começa a cobrar uma postura mais rígida das autoridades, com a criação dos seguros sociais e regulamentações bastante básicas sobre segurança. O termo Segurança do trabalho começa a surgir como uma disciplina técnica que tem como objetivo prevenir acidentes do trabalho. Nesse estágio, o foco era totalmente voltado para a interação dos operários e as máquinas que, naquela época, eram de baixa potência se comparado ao que temos hoje, mas com força suficiente para gerar lesões graves e, na maioria das vezes, incapacitantes.

É fato também que, com a criação da máquina a vapor por Mr. James Watt, nasce de forma inconsciente a Segurança de Processo, esta definida hoje como uma mistura de engenharia e gerenciamento dos conhecimentos focados na prevenção de acidentes e incidentes (quase acidentes) catastróficos, particularmente, colapso de estruturas, explosões, incêndios e intoxicações associados com a perda da contenção (controle) de energias ou substâncias perigosas. A citação da máquina a vapor, símbolo importante da revolução industrial, mudou a escala de força e trouxe diversos outros atores para o cenário industrial. A pressão e temperatura da máquina a vapor, por exemplo, são paramentos de processo que não aparecem no cenário da segurança do trabalho em função da ação direta de atividade, mas da função indireta de controle do processo produtivo. Outro fator importante é que de forma crescente a química se torna um insumo importante na cadeia produtiva, seja como combustível do processo ou como insumo para gerar o produto. Esse fato é ainda mais relevante com o crescimento da indústria de óleo e gás experimentada desde o início do século XX.

Temos então dois cenários importantes neste momento (inicio do século XX): um número enorme de acidentes de trabalho com mutilação e incapacitação dos operários, mas também algumas ocorrências, por vezes catastróficas de explosões, incêndios e outros eventos que ocorriam por falta de cuidados com estas novas substâncias (produtos químicos) e grandezas (pressões e temperaturas) nos processos. Sem dúvida os acidentes do trabalho eram prioridade, pois a frequência e proximidade com a sociedade eram enormes. Dessa forma, a segurança do trabalho cresceu de importância e se desenvolveu muito até os dias de hoje.

A década de 1970, no entanto, é marcada por um novo tipo de acidente, o acidente de processo. Apesar de varias ocorrências ao longo da história da indústria, o acidente de Seveso na Itália, em 1976, traz um marco importante para a indústria de modo geral: é preciso controlar substâncias perigosas e perda de contenção é um problema no setor. O acidente de Seveso é um divisor de águas: apesar de não ter causado vítimas humanas diretamente associadas ao vazamento de dioxina, houve um grande impacto na sociedade local, apresentada a esse novo cenário de risco aumentado.  A ocorrência gerou as famosas Diretivas de Seveso da comunidade europeia, em 1982.

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(Acidente de Seveso – Imagens da Internet)

Outros acidentes importantes ocorridos na sequência davam sinal que as técnicas e abordagem da segurança do trabalho não eram suficientes para prevenir essas grandes ocorrências. Bhopal,na Índia, é provavelmente um dos acidentes de processo mais conhecidos do mundo.

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(Acidente de Bhopal – Imagens da Internet)

Infelizmente, houve varias vítimas diretas e consequências catastróficas para a comunidade, operários e meio ambiente. A análise do acidente de Bhopal demonstra claramente a complexidade dos acidentes de processo. Mas foi outro acidente, ocorrido em 6 de julho de 1988 no mar do Norte, que iria desencadear grandes mudanças na legislação e no interesse sobre a Segurança de processo. A explosão da Piper Alfa, plataforma de petróleo que operava desde 1976 e que matou 167 pessoas, foi o marco fundamental para que a indústria entendesse a necessidade de mudar a abordagem e criar uma nova visão de segurança sem, no entanto, reduzir os investimentos e melhorias na segurança do trabalho.

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(Acidente de Piper Alfa – Imagens da Internet)

Se o assunto te interessou, em breve trarei uma segunda parte, mostrando as diferenças entre a segurança do trabalho (Ocupacional) e de Processos, até breve.

SOBRE O AUTOR


Eduardo Barbosa de Almeida é Gerente Geral Corporativo de Gestão de Segurança de Processos na USIMINAS. Possui grande experiência em empresas de grande porte na área de Saúde e Segurança do Trabalho (ArcelorMittal, Usiminas), com participação ativa na CNPBz – Comissão Nacional Permanente do Benzeno, CEBz_SP Comissão Estadual Benzeno – SP e apresentando nos últimos anos resultados significativos de redução de acidentes e doenças do trabalho, bem como na redução de passivos trabalhistas, melhoria de ambiente de trabalho e elevação do nível de maturidade organizacional das empresas por onde atuou. Introdutor no conceito de segurança de processos na industria siderúrgica brasileira e na Usiminas, liderando a equipe de Process Safety e de criação da Gestão desta dimensão da segurança na empresa.

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